quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Buycott & Boycott

O que é Boycott, ou Boicote?



Boicote é o ato de recusar relações com uma coletividade; romper relações sociais, políticas e comerciais; e propositadamente não comprar mercadorias de certa origem ou fabricação. Boicote, ou boicotagem, é o ato de recusar quaisquer relações com um indivíduo ou uma coletividade (grupo de pessoas, empresa, país, etc.) como forma de protesto ou coerção ao que se pretenda mudar, constranger, ou simplesmente não financiar. As principais razões são econômicas, políticas, ideológicas e sociais. Aplica-se a relações entre países ou entre uma coletividade e uma organização.

Comprar é um ato político

Por Plínio Fraga
Folha de São Paulo - 25/9/2008

Diz o "Houaiss" que o capitão Charles C. Boycott (1832-1897), um rico proprietário irlandês, no outono de 1880, recusando-se a baixar o preço que cobrava pelo arrendamento de suas terras, foi vítima de represália, tendo os agricultores da época se articulado para não negociar com ele. Daí a palavra boicote.

Quase 130 anos depois, o termo em inglês "boycott" ganhou uma espécie de antônimo, o "buycott". Numa livre tradução seria a compra orientada de produtos. Em visita ao Rio para participar de um seminário acadêmico, a pesquisadora Michele Micheletti, da Karlstad University, na Suécia, defendeu que o ato de consumo pode se transformar em ativismo político. Segundo ela, a falta de uma regulamentação global transferiu para os consumidores parte da responsabilidade sobre o mercado. Por meio de "boycotts" e de "buycotts", cabe aos consumidores forçar mudanças no sistema produtivo e colaborar, utilizando o seu poder de compra, para atenuar problemas como a exploração da mão-de-obra, o desrespeito ambiental e os desvios éticos e políticos de grandes empresas.

O "buycott" é o consumidor politizado, informado, responsável. Micheletti cita estudos que mostram que, na Suécia, o percentual de cidadãos que se envolveram em algum tipo de "consumo politizado" nos 12 meses anteriores à pesquisa era de 50%. No Brasil, não chegava a 7%. À repórter Denise Menchen, desta Folha, a pesquisadora disse que o resultado está vinculado ao nível de informação e aos recursos disponíveis dos consumidores. "É um movimento basicamente da classe média."

Na próxima vez que alguém se queixar das horas que você passou no shopping, pode responder que estava fazendo política. Atualmente é possível comprar até ideologia.

Charles Boycott
Montgomery Bus Boycott
Martin Luther King Jr. Day

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Da Quebra do Conceito Inteligência


"Gott ist tot" - Friedrich Nietzsche

Seres humanos são conceituados de seres conscientes de sua própria existência. A consciência é a digital humana. Seria então provável a capacidade humana de criar um outro ser que tenha consciência de si? E será que nós seres bímanos racionais temos realmente consciência do que somos ou apenas nos definimos com conceitos vagos do tipo: Sou uma estudante, tenho vinte e dois anos, nenhum filho e muitos vícios. Chegará um dia em que o ser humano se definirá como uma maravilhosa máquina biológica adaptada para sobreviver e interagir com o meio-ambiente?

Seres humanos são definidos de consciências inteligentes capazes de julgar suas atitudes e separar o bem do mal. O fator que predomina neste conceito é: o que é inteligência? Qual ciência humana poderá definir com exatidão o que chamamos de inteligência? Podemos exemplificar a falha nos conceitos humanos-científicos lembrando de alguns anos atrás quando a sonda espacial Galileu foi criada com a missão de estudar Júpiter e programada para detectar a existência e possibilidade de vida inteligente no planeta. Detalhe: foi dedicado ao projeto o que havia de mais avançado em tecnologia de computadores e inteligência humana. No entanto a sonda passou pela Terra e o programa foi iniciado. Chegou para os cientistas o seguinte “diagnóstico”: 30% de chance de haver vida na Terra e 0% de chance dessa vida ser inteligente. Pois é, na vida, geralmente, nada que acontece é o mais esperado.

Entendendo o conceito de inteligência poderemos começar a pensar na possibilidade de criar outro tipo de inteligência, outro tipo que tenha consciência de si. Ultimamente têm se discutido muito sobre IA (Inteligência Artificial) e cada vez que este assunto é posto em pauta surge também o medo do homem de ser dominado por aquilo que ele mesmo criou. O Criador sempre teme a sua criação quando ela começa a tomar consciência de si. E da mesma forma que temos a necessidade de criar, nossa criação “artificial” poderá decidir criar mais uma nova inteligência e nos eliminar por sermos tão ultrapassados e desnecessários para a evolução no planeta Terra. Foi assim que matamos Deus.


Texto publicado no Metamorfose Coletiva (Janeiro de 2008)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Expedição ao Coração da Franca Austral


Fazendo testes no DeLorean movido à banana e açaí, riscando o solo arenoso do Desert of Nowhere e levantando um cogumelo de poeira. Decolando. Macia trepidação. Língua de maçã. O solo diminui, tudo mais encolhe e - então cresce - vejo a curvatura da Terra. Os matizes de azul e laranja do sol se enfiando na noite.


Acelerando no Desert of Nowhere, o presente é um borrão que se define em um futuro presente agora.

Nowhere man and woman. No Where Now Here. Teu coração batendo quente, confortável, movido a sangue feito de água limpa e vegetais orgânicos. Suavidade. Teu sangue de língua franca, de girafa, de nuvem, de vegana. E logo que cheguei você me convidou para submergir com você nesse nano yellow submarine. E, assim que estacionei o DeLorean no quintal do seu deslaboratório, me miniaturializei com você.

Não existiam coelhos no laboratório. Nem gaiolas. Os testes eram feitos em aparelhos eletrônicos e em voluntários. Quase sempre políticos corruptos desempregados. Naquela sociedade todos os políticos haviam perdido seus empregos, quando as pessoas começaram a debater e a votar online as questões do país. Mais tarde, elas resolviam seus problemas e planejavam suas ações em rodas. Conversavam sentadas em círculos, durante o dia, enquanto pudessem se enxergar. Faziam longos trechos de silêncio também. Se havia um impasse, tocavam seus instrumentos e deixavam que a música penetrasse nas fissuras do pensamento e que a dança soldasse qualquer fragilidade da vida.

Mas naquela data específica, fomos injetados no Atlântico Sul, em águas catarinenses, com a missão de sermos ingeridos por uma baleia franca austral. Nossa tripulação:

uma dançarina-dj, um homem-pássaro, eu, uma pintora, uma capoerista, uma roqueira, um piloto, duas cantoras, um xamã culinário e sua namorada e a presidente da sociedade vegetariana.

A experiência vegana consistia em ser digerido pela baleia franca e, uma vez em seu grande esôfago, navegar até seu estômago e, a partir de lá, ser absorvido, torcendo para que as paredes do nano submarino amarelo aguentassem a chuva ácida e gástrica da grande mamífera.


Depois de sermos absorvidos, a missão é navegar no sutil até o coração da franca, austral, subindo as difíceis corredeiras do forte sangue cetáceo. Uma vez no coração, temos que dar play no media player do computador do submarino. E rodar No one's gonna love you da Band of Horses, porque é só assim, com a vibração específica desse som, que a linda baleia Sonyc-A vai despertar de um grande trauma que os caçadores de baleia lhe infligiram.

Então, contigo e embarcamos no Paul's amarelo baby, na Viagem Insólita do Veganismo, e afundamos nessa pulsação vermelha, guiando com cuidado nossa nave por entre os tubos apertados da vida.






Nano DJs. Nano Dancers. Cantores caseiros. Yogues triganeiros. Violeiros, sejam bem-vindos à expedição. Boa viagem e bons sonhos.



No One's Gonna Love You - Band of Horses


sábado, 5 de dezembro de 2009

A Máquina do Fim do Mundo

Dia 21 de novembro os jornais divulgaram o retorno do acelerador de partículas LHC (Large Hadron Collider) ou mais conhecido como a “Máquina do Fim do Mundo”. O grande colisor passou por reajustes por 14 meses e na noite do dia 20 de novembro a máquina foi considerada apta para sua principal missão: realizar experimentos sobre a composição da matéria e dar informações sobre a formação do universo.

“A circulação de partículas irá começar inicialmente em baixa energia, com 450 GeV (gigaeletrons volts). Depois que os cientistas começarem a injetar feixes em direções opostas, as primeiras colisões começarão a ser produzida nessa velocidade. A potência da circulação de prótons irá aumentar gradativamente e chegar ao momento mais esperado e temido por cientistas: as primeiras colisões de partículas em uma velocidade próxima a da luz. “

Segundo os cientistas, essa velocidade poderá recriar os instantes posteriores ao Big Bang. E isso causa uma contrariedade no Conselho de Direitos Humanos que acredita na possibilidade de um buraco negro aparecer durante a experiência e sugar nosso planeta. Em 2008 escrevi um artigo no antigo Metamorfose Coletiva cuja temática eram os aceleradores de partículas. Segue abaixo o texto:


E no princípio era o Nada
(e continuamos aqui graças a Ele)
27 de Fevereiro de 2008


Em 2003 a análise de dados do satélite-telescópio WMAP leva os cientistas a uma conclusão considerada absurda, porém incontestável: a de que 73% do peso do Universo vem do vazio. E este vazio, de acordo com os físicos, não passa de energia cristalizada que por sua vez não passa de partículas que existiram antes do Big Bang que se acalmaram com o resfriamento do Universo.
De súbito descobrimos que aquilo que considerávamos ausência ou nada, na realidade, é muita coisa, apesar de não poder ser detectado pelos nossos sentidos. Aprendemos que onde não têm mais, só pode ter menos, onde está quente não pode estar frio, o que é concreto não pode ser abstrato. O paradoxo é esculpido entre a intenção de ser e a de não ser. E quando descobrirmos que não existem diferenças ou que as diferenças se originam da mesma raiz ?
O ser humano é um animal racional que tem o privilégio de comparar, escolher, criar e dar ação ao pensamento. Todas nossas escolhas e criações se originam do ato de comparar ou seja: construímos a civilização que conhecemos à base de comparações. Na política, na religião, na matemática, no sexo, nas artes, na guerra, existem lados opostos: lados que, segundo nossa capacidade de distinção, não combinam. E se de um dia para o outro perdêssemos esta capacidade de distinção que adquirimos através das comparações que fizemos durante todo o período de vida? Com certeza, se esta mutação dos conceitos acontecesse em um único período e com uma grande parte da civilização, teríamos uma mudança nunca antes imaginada na economia, as religiões se extinguiriam ou se uniriam, a matemática tomaria um outro rumo e grande parte das diferenças se igualariam.
E porquê se concretizaria uma mudança? Por nada... Isto mesmo! Ou melhor, pelo nada. Já que o nada é um monstro que está adormecido, é preciso acordá-lo. Os físicos já observaram partículas entrando e saindo do vácuo após uma colisão causada por aceleradores de partículas. Através destes aceleradores o nada é acordado aos poucos, no entanto, as conseqüências de acordá-lo por inteiro são ignoradas pela ciência e pelo homem. Poderíamos ser tragados pela energia invisível ou até mesmo sermos transportados para uma dimensão somente descrita nos livros de ficção científica.



Videos relacionados ao LHC

LHC



Cidadãos contra LHC


Lisa Alves

Veni, Creator Spiritus

Veni Creator Spiritus (Vem Espírito Criador) é um hino medieval católico cantado em honra do Espírito Santo e composto por Rabano Mauro, no século IX. O hino é entoado pelos cardeais quando entram para o Conclave e nas cerimônias litúrgicas relacionadas com o culto do Espírito Santo. Nesta música de Paul Schwatrz, a canção ganha uma roupagem diferente.



Veni Creator Spiritus

Veni Creator Spiritus,
Mentes tuorum visita,
Imple superna gratia,
Quae tu creasti, pectora.

Qui Paraclitus diceris,
Altissimi donum Dei,
Fons vivus, ignis, caritas,
Et spiritalis unctio.

Tu septiformis munere,
Digitus Paternae dexterae,
Tu rite promissum Patris,
Sermone ditans guttura.

Accende lumen sensibus,
Infunde amorem cordibus,
Infirma nostri corpis
Virtute firmans perpeti.

Hostem repellas longius,
Pacemque dones protinus;
Ductore sic te praevio,
Vitemus omne noxium.

Per te sciamus da Patrem
Noscamus atque Filium;
Teque utriusque Spiritum
Credamus omni tempore.

Deo Patri sit gloria,
Et Filio, qui a mortuis
Surrexit, ac Paraclito
In saeculorum saecula.

Amen.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Objetos e Realidade

Percebemos as imagens no mundo, damos nomes a elas e denominamo-as objetos, em relação à nossa percepção, a que denominamos sujeitos.

Mas os objetos, relacionamo-nos com eles como algo dado – uma árvore, uma pessoa, o sol – mas não nos indagamos o que são eles. Tudo o que dizemos sobre um objeto é o que traduzimos através dos sentidos e do raciocínio (pensar), que dizem sobre eles mas não sâo eles.

Por exemplo, uma maçã, já nos indagamos sobre o que é uma maçã em si mesma? O conceito que temos de uma maçã é o de que é uma fruta (o raciocínio que a catalogou em relação ao seu ambiente sistêmico), vermelha (o que os olhos dizem), macia (o que o tato diz), doce (o que o paladar diz), com pouco cheiro (o que o paladar diz).
Mas o que é a maçã em si mesma? Podemos nos antecipar e responder que não podemos saber o que é a maçã, assim como o que é a realidade, senão através dos sentidos. Mas será que essa afirmação procede?

A maçã é realidade, a realidade é realidade e nós somos realidade. Se acharmos que não podemos saber o que é a maçã em si mesma, porque partimos do pressuposto de que não somos a maçã, podemos então indagar quem somos nós, qual é a nossa natureza, se há uma natureza que não a tradução que os sentidos e o raciocínio nos dão.

E como nós investigamos quem somos nós? Investigar quem somos nós indica imediatidade ( o contrário de 'por intermédio de'). Diria que o sentir (aqui no sentido de perceber, estar consciente de) é uma forma direta de investigação.

Quando fechamos os olhos e apenas sentimos, percebemos, sem usar o raciocínio nem os sentidos, não é uma forma mais direta de investigarmos quem somos? A percepção, o sentir diretos não são traduzidos pelos sentidos nem pelo raciocínio (fechando os olhos, deixando as mãos sem tocar o corpo e não fazendo uma imagem do corpo).

Nessa percepção, nesse sentir direto, quem somos nós? Sem raciocinar (o que significa sem responder sou isso ou aquilo, sem dar uma resposta conceitual) e sem usar os sentidos, de olhos fechados, você encontra algum corpo? Encontra alguma tradução como sou homem, mulher, alto, baixo, humano etc.? Encontra algum mundo interior ou mundo exterior? Encontra algum sujeito ou algum objeto?

O que percebemos é algo que as palavras não conseguem traduzir porque não pode ser objetificado (percebido pelos sentidos). A essa percepção podemos apenas dar alguns nomes que indicam, que apenas indicam: pura percepção, presença, espaciosidade, espírito, vazio.