domingo, 13 de dezembro de 2009

Expedição ao Coração da Franca Austral


Fazendo testes no DeLorean movido à banana e açaí, riscando o solo arenoso do Desert of Nowhere e levantando um cogumelo de poeira. Decolando. Macia trepidação. Língua de maçã. O solo diminui, tudo mais encolhe e - então cresce - vejo a curvatura da Terra. Os matizes de azul e laranja do sol se enfiando na noite.


Acelerando no Desert of Nowhere, o presente é um borrão que se define em um futuro presente agora.

Nowhere man and woman. No Where Now Here. Teu coração batendo quente, confortável, movido a sangue feito de água limpa e vegetais orgânicos. Suavidade. Teu sangue de língua franca, de girafa, de nuvem, de vegana. E logo que cheguei você me convidou para submergir com você nesse nano yellow submarine. E, assim que estacionei o DeLorean no quintal do seu deslaboratório, me miniaturializei com você.

Não existiam coelhos no laboratório. Nem gaiolas. Os testes eram feitos em aparelhos eletrônicos e em voluntários. Quase sempre políticos corruptos desempregados. Naquela sociedade todos os políticos haviam perdido seus empregos, quando as pessoas começaram a debater e a votar online as questões do país. Mais tarde, elas resolviam seus problemas e planejavam suas ações em rodas. Conversavam sentadas em círculos, durante o dia, enquanto pudessem se enxergar. Faziam longos trechos de silêncio também. Se havia um impasse, tocavam seus instrumentos e deixavam que a música penetrasse nas fissuras do pensamento e que a dança soldasse qualquer fragilidade da vida.

Mas naquela data específica, fomos injetados no Atlântico Sul, em águas catarinenses, com a missão de sermos ingeridos por uma baleia franca austral. Nossa tripulação:

uma dançarina-dj, um homem-pássaro, eu, uma pintora, uma capoerista, uma roqueira, um piloto, duas cantoras, um xamã culinário e sua namorada e a presidente da sociedade vegetariana.

A experiência vegana consistia em ser digerido pela baleia franca e, uma vez em seu grande esôfago, navegar até seu estômago e, a partir de lá, ser absorvido, torcendo para que as paredes do nano submarino amarelo aguentassem a chuva ácida e gástrica da grande mamífera.


Depois de sermos absorvidos, a missão é navegar no sutil até o coração da franca, austral, subindo as difíceis corredeiras do forte sangue cetáceo. Uma vez no coração, temos que dar play no media player do computador do submarino. E rodar No one's gonna love you da Band of Horses, porque é só assim, com a vibração específica desse som, que a linda baleia Sonyc-A vai despertar de um grande trauma que os caçadores de baleia lhe infligiram.

Então, contigo e embarcamos no Paul's amarelo baby, na Viagem Insólita do Veganismo, e afundamos nessa pulsação vermelha, guiando com cuidado nossa nave por entre os tubos apertados da vida.






Nano DJs. Nano Dancers. Cantores caseiros. Yogues triganeiros. Violeiros, sejam bem-vindos à expedição. Boa viagem e bons sonhos.



No One's Gonna Love You - Band of Horses


Um comentário:

  1. Who can hold that bird?

    Cara... quando leio esses posts o que me vem na mente e/ou no corpo é esse espírito de aceitação e fluidez... um conceito que talvez a melhor palavra a se usar nem seria conceito, mas consentir, que aparece tanto na forma quanto no conteúdo.

    Vamos mergulhar, por entre essas baleias que estão dentre nós. Que paradoxo é esse...

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